A maior conquista da delegação brasileira no Mundial de Atletismo Sub-20 de Tampere, na Finlândia, foi reservada para o último dia. Mirieli Estaili chegou ao campeonato como a atleta mais bem rankeada entre os 20 brasileiros convocados. Quinta do mundo no salto triplo, a atleta de 19 anos entrou no Estádio Ratina neste domingo carregando nas costas não apenas a enorme expectativa dos amigos, familiares e do treinador Marcos Vieira, mas também um histórico de superação marcado por uma grave entorce no joelho em 2014 e por uma lesão na coxa a dois meses do Mundial. Era preciso provar para si mesma que fez a escolha certa ao insistir no sonho e encher de orgulho todos aqueles que apostaram nela. Ao saltar 13,81m, sua melhor marca pessoal, Mirieli conseguiu subir ao pódio e receber a medalha de prata. A segunda do país em Tampere e a 14ª da história do atletismo brasileiro no Mundial Sub-20.

 

 

- Não sei nem dizer o que estou sentindo. Não dá para explicar. Estou muito feliz, quando dei o quinto salto tinha certeza da medalha. Nossa. Só digo que estou muito feliz, acho que a ficha vai cair mais tarde - disse a atleta, ainda eufórica.

 

Há 16 anos, o Brasil não conquistava uma medalha no salto triplo feminino do Mundial Sub-20. A última vez foi com Keila Costa, bronze em 2002 com 13,70m. Até hoje, o país só tinha conseguido uma única prata no campeonato, com Vanda Ferreira Gomes nos 200m, em 2006. Agora, o Brasil soma 3 ouros, 2 pratas e 9 bronzes na história do Mundial Sub-20, inlcuindo aí o bronze de Alison Brendom conquistado neste sábado (14) nos 400m com barreiras.

 

Nascida no Pará, Mirieli Estaili descobriu o atletismo aos 8 anos no projeto "Sementes de Ouro” com crianças de 10 a 17 anos na Associação Sorrisense de Atletismo, em Sorriso, no Mato Grosso. Aos 12 anos, ela virou atleta do treinador Marcos Vieira. Em 2014, um susto! Mirieli sofreu uma queda na caixa de areia e rompeu os ligamentos do joelho e lesionou o menisco. Ficou um ano e meio afastada do esporte. Mas, desistir nunca foi uma opção. A paraense voltou a treinar e conseguiu ser top 5 do mundo na categoria.

 

Mas, por pouco, Mirieli não foi à Tampere. No final de abril, a atleta sofreu uma lesão muscular na coxa durante o Campeonato Brasileiro Sub-23 em Porto Alegre e precisou ficar 40 dias parada. Voltou a treinar num ritmo mais leve, mas foi poupada de disputar o Campeonato Brasileiro Sub-20 em Bragança Paulista (SP), no mês de Junho, última classificatória nacional para o Mundial de Tampere, justamente porque já tinha alcançado o índice.

 

- Eu vim aqui com o sonho de subir no pódio, minha semifinal foi incrível, não esperava fazer recorde pessoal na semifinal, entrei muito focada na final, entrei com a segunda marca, durante a competição caí pra sexto lugar, mas em nenhum momento eu deixei de acreditar. Trouxe aquela força lá de dentro e falei, vou ter que fazer um salto bom aqui, consegui fazer a marca que eu queria, que era 13,80 e ainda fiz 13,81m. Levei a prata! Passa um filme enrome, fiquei muito contente mesmo, em abril foi a última vez que fiz salto triplo com corrida completa, falei pro meu treinador que tava confiante de subir no pódio.

 

Segundo Marcos Vieira, a determinação da pupila em se recuperar para fazer bonito na Finlândia foi fundamental para que ela chegasse tão confiante.

 

- Ela queria muito isso e treinamos muito para estar aqui. Não temos as melhores estruturas, mas temos uma raça e um amor imensos pelo que estamos fazendo e principalmente por representar nosso país e as milhares de crianças que treinam diariamente em Sorriso (MT) em nosso projeto. Tô feliz pra caramba, pela história dela, pela superação pra chegar até aqui, espero que vcs torçam de coração porque essa energia positiva vai ajudar pra que Mirieli possa dar um salto ainda maior na final, esse é nosso objetivo! - revelou Marcos Vieira, antes da final, já prometendo um salto de 13,80m, pois sabia que a atleta era capaz de atingir a marca depois de saltar 13,60m na eliminatória.

 

Com o vice-campeonato, Mirieli assumiu o quarto lugar no Ranking Mundial da categoria da IAAF. A brasileira só foi superada neste domingo pela búlgara Aleksandra Nacheva, que marcou 14,18m. A cubana Davisleydi Velazco ficou com a medalha de bronze, com 13,78 m.

 

- De Sorriso para o mundo, superando as escolas de outros países, um projeto que tem como base a formação de jovens talentos, crianças, ela é referência pra muitas crianças que podem sonhar como ela sonhou e chegar onde ela chegou.